domingo, 12 de setembro de 2010

Ecoturismo e desenvolvimento sustentável

A gestão responsável e sustentada dos recursos naturais e o respeito à preservação da identidade cultural de populações nativas têm servido às vezes de instrumento de contenção dos anseios e necessidades desenvolvimentistas de muitos países.

O simples reconhecimento de que algumas práticas adotadas na expansão das fronteiras em busca do crescimento econômico são nocivas ao meio ambiente e ao homem, não é suficiente. É preciso aceitar o desafio de promover mudanças nas políticas de desenvolvimento e encontrar alternativas para os modelos até agora adotados.

Encontrar alternativas de desenvolvimento que tragam melhoria da qualidade de vida das populações locais aliadas à preservação do patrimônio ambiental e cultural tem sido um desafio para todos os envolvidos nesse processo. Aliar desenvolvimento e sustentabilidade dos recursos não é uma tarefa fácil de se executar.

Entre as diversas atividades econômicas que hoje se vislumbra como alternativa de desenvolvimento sustentável para comunidades inseridas em um contexto de necessidade de desenvolvimento em ambientes frágeis está a atividade do ecoturismo, tendo em vista ser uma atividade econômica que se caracteriza por promover o uso sustentável dos recursos buscando a consciência ambiental envolvendo no processo as populações locais.

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a importância do ecoturismo como alternativa de desenvolvimento sustentável para pequenas comunidades. Identificar quais são os benefícios que podem trazer às populações envolvidas sem esquecer dos impactos negativos que poderão causar se não houver um planejamento correto para a sua implantação.

O turismo é uma das atividades sócio-econômicas de maior importância em vários paises do mundo, chegando até a ser a de maior ênfase em muitos deles. As estimativas atuais são de que o turismo gera uma receita anual de US$ 3,4 trilhões, ou seja, 10,9% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial (Wearing e Neil, 2001).

Esse crescimento tem implicações significativas para os países em desenvolvimento. Atualmente, as receitas obtidas do turismo representam mais de 10% da receita total em 47 países em desenvolvimento e mais de 50% do valor auferido com exportações em 17 países (Wearing e Neil, 2001).

Por essas razões o turismo é muito valorizado por diversos países e, muitas vezes, desempenha um papel importante nas estratégias de desenvolvimento. O turismo é bastante promovido, e os seus representantes são cortejados pelos governos devido ao seu significativo potencial de sustentar o câmbio e os empregos locais.

Este crescente fluxo turístico torna imperativa a adoção de ferramentas de preparação e controle da atividade nos pólos receptores de forma a maximizar os pontos positivos que a atividade irá gerar na localidade e ao mesmo tempo minimizar os impactos negativos que esta atividade normalmente provoca na população autóctone. É baseado nisto que, diversos estudiosos vem se preocupando em tornar pública a importância da preservação e do planejamento, de forma concreta e permanente.

O turismo é uma atividade que se bem planejada e desenvolvida pode trazer às populações locais benefícios amplos, como oportunidade de diversificação e consolidação econômica, geração de empregos, conservação ambiental, valorização da cultura, conservação e/ou recuperação do patrimônio histórico, recuperação da auto-estima, entre outros (WWF, 2003).

De todos os tipos de turismo praticados no mundo nenhum cresceu tanto nos últimos anos como o "ecoturismo". O número de ecoturistas que habitualmente visitam áreas naturais – em especial, áreas naturais protegidas ou unidades de conservação – aumentou vertiginosamente em todo o mundo.

Do ponto de vista mercadológico, o ecoturismo é um segmento que tem obtido um crescimento considerável, ao longo dos últimos anos. Para os empresários do segmento, a estimativa é de que o crescimento do ecoturismo se situe em 20% ao ano. O faturamento anual do ecoturismo, a nível mundial, é estimado em US$ 260 bilhões, do qual o Brasil se apropriaria com cerca de US$ 70 milhões.

A Organização Mundial do Turismo (OMT) estima que 10% das pessoas que viajam pelo mundo são ecoturistas. No Brasil, pressupõe-se que o ecoturismo alcance meio milhão de turistas, por ano.

No Amazonas, Estado brasileiro que se destaca como pólo de ecoturismo, os turistas estrangeiros ainda são predominantes. Entretanto, calcula-se que a participação do turista nacional, na região, antes em torno de 10% do total, tenha triplicado, nos três últimos anos.

De acordo com Costa (2003) para atender a essa demanda, muitos lugares semi-isolados, desabitados ou habitados apenas por umas poucas pessoas, foram rapidamente "civilizados" – ocupados por pousadas, bares, restaurantes e um comércio amplo e variado, que a partir de então passou a vender os produtos "típicos" do local.

O aparecimento do ecoturismo e o seu acelerado crescimento têm suas raízes na insatisfação gerada pelo turismo convencional de massa muito criticado pelo fato de dominar a atividade dentro de uma região, de sua orientação não-local, e o fato de que muito pouco do dinheiro gasto ali efetivamente permanece no local e gera mais recursos, associada ao crescimento mundial da consciência ambiental, contribuindo para aumentar a demanda por experiências mais autênticas, baseadas na natureza e em aspectos culturais, tendo como destino paises em desenvolvimento, possibilitando, inclusive, uma alternativa econômica a outras práticas como, por exemplo, a extração de madeira ou mono-cultura (soja, cana de açúcar, etc).

Devido às muitas formas em que as atividades do ecoturismo são oferecidas por uma grande diversidade de operadores, praticadas por uma variedade ainda maior de tipos de turistas ainda não há um consenso sobre o seu significado. É um termo amplo e vago, sendo para alguns, um subconjunto de atividades turísticas baseadas na natureza; para outros, é um nicho de mercado.

Apesar de que a origem do termo ecoturismo seja controversa e não muito clara, especula-se que foi W. Hetzer que o utilizou pela primeira vez em 1965.

Nos anos 70 e 80 outras referências foram feitas ao ecoturismo, onde o termo "ecotours" foi utilizado no Canadá para identificar roteiros interpretados de um corredor turístico ao longo da rodovia-cênica Trans-Canadá.

Mais recentemente, em 2002, como parte das atividades do Ano Internacional do Ecoturismo, aconteceu a Conferência Mundial do Ecoturismo, em Quebec, com o objetivo de discutir políticas, práticas, impactos (sociais, econômicos e ambientais) e elaborar um conjunto de conclusões e recomendações para o planejamento, desenvolvimento, gestão, marketing e monitoramento de atividades ecoturísticas, com vistas a garantir sua sustentabilidade em longo prazo.

No Brasil, no âmbito governamental, o ecoturismo é discutido desde 1985, quando a EMBRATUR iniciou o projeto "Turismo Ecológico". A primeira iniciativa de ordenar a atividade ocorreu em 1987 com a criação da Comissão Técnica Nacional, constituída por técnicos do IBAMA e da EMBRATUR, para monitorar o Projeto de Turismo Ecológico, em resposta às práticas existentes à época - pouco organizadas e nada sustentáveis.

Entretanto, nem os esforços governamentais, nem os privados foram suficientes para ultrapassar as barreiras, algumas até hoje existentes, entre a teoria - principalmente em relação aos modelos nacionais - e a prática do ecoturismo.

Inclui-se entre essas barreiras a ausência de consenso sobre a conceituação do segmento - inclusive, como ocorre internacionalmente -, a falta de critérios, regulamentações e incentivos que orientem empresários, investidores e o próprio governo, no estímulo e no uso do potencial dos patrimônios naturais e culturais, ao mesmo tempo em que promova a sua conservação.

De um modo geral, tem-se concebido o ecoturismo como uma atividade que põe o homem em contato com a natureza e com seus semelhantes; que favorece a interação humana: como um fator importante na formação da cultura moderna.

O documento "Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo" que estabelece os conceitos pertinentes ao segmento de ecoturismo, no Brasil, bem como a definição dos critérios de exploração sustentável do potencial constituído por nossas belezas naturais e valores culturais define ecoturismo como sendo:

"Segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas" (EMBRATUR, 1994).

Fennel (2002) conceitua ecoturismo como sendo:

"Uma forma sustentável de turismo baseado nos recursos naturais, que focaliza principalmente a experiência e o aprendizado sobre a natureza: é gerido eticamente para manter um baixo impacto, é não predatório e localmente orientado (controle, benefícios e escala). Ocorre tipicamente em áreas naturais, e deve contribuir para a conservação ou preservação destas".

Segundo Carvalho (2003) o ecoturismo é uma atividade que busca valorizar as premissas ambientais, sociais, culturais e econômicas conhecidas de todos nós, e inclui a interpretação ambiental como um fator importante durante a experiência turística.

Segundo Swarbrooke (2000) o ecoturismo é visto como:

    • Um turismo em pequena escala;
    • Mais ativo do que outras formas de turismo;
    • Uma modalidade de turismo na qual a existência de uma infra-estrutura de turismo sofisticada é um dado menos relevante;
    • Empreendido por turistas esclarecidos e bem educados, conscientes das questões relacionadas a sustentabilidade, além de ávidos por aprender mais sobre estes temas;
    • Menos espoliativo das culturas e da natureza locais do que as formas "tradicionais" de turismo.

Isto é o que diferencia o ecoturismo de outras formas de se fazer turismo. Pode-se dizer que o ecoturismo é mais um conceito de viagem do que um produto de turismo, pois traz consigo uma filosofia de vida que tem como princípio orientador de sua prática a preservação do patrimônio histórico, cultural, natural e humano. É um turismo diferenciado, de pessoas cujo objetivo é interagir com o ambiente e com as comunidades envolvidas em tal ambiente. Quando se fala em ecoturismo, está-se referindo à sustentabilidade, à autenticidade e originalidade dos meios visitados.

Além dessas perspectivas, o ecoturismo pode cumprir um papel importante no equilíbrio da balança comercial, com o ingresso de novas divisas, por meio do aumento no fluxo de turistas estrangeiros e da atração de investimentos para a construção de equipamentos turísticos.

O ecoturismo poderá constituir-se em um dos alicerces na tentativa de alcançar um modelo sustentável de desenvolvimento, desde que ocorra em áreas naturais, beneficiando o meio ambiente e as comunidades visitadas e que promova o aprendizado, respeito e consciência sobre aspectos ambientais e culturais, gerando harmonia e equilíbrio entre os seguintes fatores: resultados econômicos, mínimos impactos ambientais e culturais, e satisfação do cliente (ecoturista) e da comunidade.

Quando bem praticado, pode ser uma alternativa sustentável de exploração e conservação dos recursos naturais dos destinos selecionados, oferece experiências únicas e autênticas ao turista, proporcionando uma vivência real como novas culturas e ambientes, além de oferecer ao mercado oportunidades de pequenas iniciativas locais, valorizando a especialização em determinados segmentos.

A atividade ecoturística deve valorizar ao máximo as comunidades locais de entorno de alguma região com atributos ecoturísticos. Para os ecoturistas é muito importante o nível de envolvimento da comunidade local nas atividades ligadas à sua visita. O que se quer é que os habitantes do entorno ou residentes em determinada área com atributos ecoturísticos sejam os mais beneficiados com a atividade.

O que se busca é que os habitantes locais tenham na atividade uma forma de sustento e preferencialmente complementar às já existentes. Sejam como guias, como proprietários de pousadas, donos de restaurantes, cozinheiros, motoristas, artesãos, etc... Enfim, a mão-de-obra utilizada na infra-estrutura de determinado destino ou produto ecoturístico, deverá absorver ao máximo a mão-de-obra local, e, de preferência, de tal forma que esta seja uma atividade complementar às já existentes.

O ecoturismo tem o potencial de criar apoio para os objetivos de conservação, tanto na comunidade local quanto entre os visitantes, pelo estabelecimento e pela sustentação de vínculos entre a indústria do turismo, as comunidades locais e as áreas de proteção.

Como os benefícios sociais e ambientais são essencialmente interdependentes, os benefícios sociais, advindos para as comunidades como resultado do ecoturismo, podem acarretar o crescimento global dos padrões de vida, devido ao estímulo econômico gerado pela maior visitação ao local. Igualmente, os benéficos ambientais surgem quando as comunidades são induzidas a proteger os ambientes naturais para sustentar o turismo economicamente viável.

Há um consenso por parte de estudiosos sobre os benefícios econômicos, sociais e ambientais do ecoturismo: diversificação da economia regional (micros e pequenos negócios); geração local de empregos; fixação da população no interior; melhorias na infra-estrutura de transporte, comunicação e saneamento; criação de alternativas de arrecadação para as Unidades de Conservação; diminuição de impacto sobre o patrimônio natural e cultural; diminuição de impacto no plano estético-paisagístico; e melhoria nos equipamentos das áreas protegidas.

Entretanto é consenso também entre os estudiosos que o ecoturismo não é só benefício, existindo também os impactos negativos que se não forem constantemente monitorados e avaliados podem ser tão devastadores quanto os causados pelo turismo convencional de massa como o maior consumo de recursos naturais, crescimento do lixo, perda de valores tradicionais, aumento do custo de vida e adensamento urbano.

O ecoturismo como qualquer outra atividade econômica, pode produzir impactos - positivos ou negativos – sociais, econômicos e ambienteis. Mas esses impactos são decorrentes do modo como se planeja, implanta e monitora. Um planejamento turístico deve maximentar os benefícios sócio-econômicos e minimizar os custos, visando o bem estar da comunidade receptora e a rentabilidade dos empreendimentos do setor.

O desenvolvimento do ecoturismo deve considerar os seguintes aspectos:

    • Promover e desenvolver o turismo, em bases cultural e ecologicamente sustentável;
    • Promover e incentivar investimentos em conservação dos recursos naturais e culturais utilizados;
    • Fazer com que a conservação beneficie, materialmente, comunidades envolvidas, pois, somente servindo de fonte de renda alternativa, estas se tornarão aliadas de ações conservadoristas;
    • Ser operado de acordo com critérios de mínimo impacto, de modo a ser uma ferramenta de proteção e conservação ambiental e cultural;
    • Educar e motivar as pessoas para que percebam a importância de se conservar a cultura e a natureza.

O desenvolvimento sustentável é um modelo discutido amplamente, entretanto existe a carência de alternativas que viabilizem sua efetiva implementação. Carentes de recursos as pequenas comunidades precisam encontrar a sua vocação levando-as ao desenvolvimento sustentável proporcionando melhores condições de vida aos seus habitantes.

Pelas suas características o ecoturismo é efetivamente uma alternativa de desenvolvimento sustentável para pequenas localidades. No Brasil temos exemplos de comunidades que se desenvolveram a partir desta atividade. Bonito, no Estado do Mato Grosso, Brotas em São Paulo, Presidente Figueiredo, no Amazonas, são exemplos de comunidades que a partir do ecoturismo aumentaram a qualidade de vida de seus habitantes.

Entretanto em função de seus impactos positivos e negativos deve ser muito bem planejado, para que os benefícios sejam maximizados reduzindo-se ao máximo os impactos negativos resultantes desta atividade.

A participação da comunidade em parceria com a iniciativa privada e o governo é fundamental para desenvolver um plano de ecoturismo que atenda as suas necessidades gerando emprego e renda, melhorando a infra-estrutura de serviços básicos, ao mesmo tempo em que desenvolva a consciência dos envolvidos neste processo pela preservação ambiental, fator primordial para a manutenção da atividade.

Para concluir é importante que fique bem claro que o ecoturismo não é a salvação, mas sim uma alternativa para as pequenas comunidades carentes de melhores condições de vida em um ambiente frágil, em que a preservação da natureza seja propulsora de desenvolvimento proporcionando aumento da qualidade de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Vininha F. 2003. Origem e desenvolvimento do ecoturismo no Brasil. (on line). Acessado em 24 de julho de 2004. Disponível na Internet em www.ecoviagem.com.br/ecoartigos/def_ecoartigos.asp?codigo=6707

EMBRATUR. Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo. Brasília, 1994.

SWARBROOKE, J. 2000. Turismo sustentável: turismo cultural, ecoturismo e ética. Vol. 5 – São Paulo: Aleph.

WEARING, Stephen e NEIL, John. 2001. Ecoturismo: impactos. Potencialidades e possibilidades. São Paulo: Editora Manole.

WWF-BRASIL. 2003. Sociedade e ecoturismo: na trilha do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Vitae Civilis e WWF-Brasil.

Ecoturismo e Desenvolvimento Sustentável

O intuito deste artigo é o de instigar a discussão sobre estes temas, de uma forma diferenciada. Fala-se muito sobre desenvolvimento sustentável e a relação do turismo com este, mas existem outras concepções de desenvolvimento ambientalmente responsável, às vezes ignoradas. Apresentaremos inicialmente algumas das principais teorias e de como o turismo de inseriu nesta discussão. Em seguida faremos um paralelo entre o turismo sustentável e o ecoturismo, salientando as diferenças e as relações entre estes fenômenos.

Para AMÂNCIO & GOMES (2001), discutir ecoturismo e desenvolvimento sustentável é um desafio interessante, principalmente quando se tenta descaracterizar a atividade ecoturística de um estigma elitista. Ver o ecoturismo como uma atividade a ser trabalhada ou "explorada" por grupos capitalizados financeiramente é reduzir seu papel como elemento importante para promover o desenvolvimento rural e incluir segmentos da população que são historicamente marginalizados do acesso a mecanismos de produção na sociedade capitalista, sejam eles materiais ou de caráter social e cultural.

Para melhor situar esta discussão, que se pensa ser fundamental para a delimitação do papel do ecoturismo em programas de desenvolvimento e, conseqüentemente, formas de planejamento para o desenvolvimento, é necessário rever e repensar as diferentes estratégias que se formularam nas últimas décadas para que o desenvolvimento seja eqüitativo e ambientalmente correto.

Dessa forma, faremos uma breve reflexão do problema ambiental e o desenvolvimento econômico, ou melhor dizendo, como o meio ambiente é visto pela economia. Isto poderá nos esclarecer sobre as diferentes formas de interpretar a crise ambiental, à luz de formulações de política econômica.

O Ecodesenvolvimento

Em oposição às teses de conservadorismo strictu senso e do crescimento a qualquer custo, surgiu, sob os auspícios do PNUMA, o conceito de Estratégias de Ecodesenvolvimento. Elas foram concebidas como uma nova abordagem, as quais centravam a análise na satisfação das necessidades fundamentais das populações despossuídas, na adaptação das tecnologias e dos modos de vida às particularidades dos microecossistemas, na valorização dos dejetos e eliminação dos desperdícios e a exploração dos recursos pela concepção de sistemas integrados.

Segundo AMÂNCIO & GOMES (2001), na sua forma mais simples, o ecodesenvolvimento significa transformar o desenvolvimento numa soma positiva com a natureza, propondo que tenha por base o tripé: justiça social, eficiência econômica e prudência ecológica. A qualidade social é medida pela melhoria do bem estar das populações despossuídas e a qualidade ecológica pela solidariedade com as gerações futuras.

Desebvolvimento Sustentado

Em 1983, a Assembléia das Nações Unidas encomendou um relatório à comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela Primeira Ministra da Noruega, Sra. Brundtland. Sua equipe era composta de 22 membros internacionais, entre os quais ministros de estado, cientistas e diplomatas.

O relatório desta comissão, publicado em abril de 1987 e posteriormente denominado "Nosso Futuro Comum", vem difundindo o conceito de desenvolvimento sustentado, que passou a figurar sistematicamente na semântica de linguagem internacional, servindo como eixo central de pesquisas realizadas por organismos multilaterais e mesmo por grandes empresas.

O conceito desenvolvimento sustentado, no informe em questão, tem três vertentes principais: crescimento econômico, eqüidade social e equilíbrio ecológico, induzindo um “espírito de responsabilidade comum” como processo de mudança no qual a exploração de recursos materiais, os investimentos financeiros e as rotas de desenvolvimento tecnológico deverão adquirir sentido harmonioso (AMÂNCIO & GOMES, 2001).

O relatório de Brundtland traz a seguinte definição: “o desenvolvimento sustentado é aquele que responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder às suas necessidades”. Esta definição está centrada na sustentabilidade do desenvolvimento econômico e é criticada por vários autores, que insistem que não se pode pensar nas gerações futuras quando parte da geração atual não atende às suas necessidades básicas.

Economia Ecológica

A economia ecológica (EE) surgiu no final da década de 1980, na costa leste americana (NYU/New School, Boston, IBRD), opondo-se à utilização dos modelos de economia neoclássicos e de ecologia convencional que comprovaram ser insuficientes na explicação e resolução dos problemas ecológicos globais.

Para AMÂNCIO & GOMES (2001), a Economia Ecológica considera errônea a ênfase no crescimento como estratégia para resolver problemas de qualidade de vida, dada a limitada disponibilidade dos estoques dos recursos naturais e o perigo de se ultrapassar o nível de equilíbrio da matéria e da energia. A otimização dos recursos passa a ser biocêntrica, em vez de ser antropocêntrica.

Neste ponto é interessante uma pausa para reflexão. Já é possível perceber que existem diferentes enfoques para se tratar à questão ambiental, partindo de uma percepção econômica. Nota-se que as diferentes matrizes tem pressupostos e propostas que as diferenciam. Enquanto uma, por exemplo, ressalta a importância de fatores locais para gerar o desenvolvimento e a preservação ambiental, outra argumenta quanto à necessidade de privatização dos recursos naturais como estratégia mais adequada para assegurar a sustentabilidade ambiental. Isto pode ser de extrema riqueza para a reflexão sobre como conceber o ecoturismo em estratégias de desenvolvimento. Qual o melhor caminho? Investimentos financeiros oriundos de fora para promover o turismo em locais com belezas físicas ou o resgate da cidadania e promoção da cultura local como atrativo?

O desenvolvimento do turismo sustentável

Para prevenir os impactos ambientais do turismo, a degradação dos recursos e a restrição do seu ciclo de vida, é preciso concentrar os esforços em um desenvolvimento sustentável não apenas do patrimônio natural, mas também dos produtos que se estruturam sobre os atrativos e equipamentos turísticos.

Segundo RUSCHMANN (1997), os conceitos de turismo sustentável e desenvolvimento sustentável estão intimamente ligados a sustentabilidade do meio ambiente, principalmente nos países menos desenvolvidos. Isto porque o desenvolvimento e o desenvolvimento do turismo em particular dependem da preservação da viabilidade de seus recursos de base. Encontrar o equilíbrio entre os interesses econômicos que o turismo estimula e um desenvolvimento da atividade que preserve o meio ambiente não é tarefa fácil, principalmente porque seu controle depende de critérios e valores subjetivos e de uma política ambiental e turística adequada – que ainda não se encontrou no Brasil e em vários outros países.

O desenvolvimento sustentável do turismo deve considerar a gestão de todos os ambientes, os recursos e as comunidades receptoras, de modo a atender às necessidades econômicas, sociais, vivenciais e estéticas, enquanto a integridade cultural, os processos ecológicos essenciais e a diversidade biológica dos meios humano e ambiental são mantidos através dos tempos.

Ecoturismo

Ao se debater turismo sustentável, encontramos um aspecto bastante polêmico, que diz respeito ao conceito de ecoturismo. Alguns autores usam os dois termos de maneira intercambiável, enquanto outros vêem os dois fenômenos como dimetricamente opostos.

Para SWARBROOKE (2000), em termos simples, ecoturismo significa simplesmente que a principal motivação para a viagem é o desejo de ver ecossistemas em seu estado natural, sua vida selvagem assim como sua população nativa. Contudo, muitas vezes se considera o ecoturismo como sendo mais do que isso. Seus defensores afirmam que ele se relaciona também com o desejo de ver os ecossistemas preservados e que a população local viva melhor por conta dos efeitos do turismo.

Mesmo sem considerar esse último aspecto, muitas pessoas veriam uma relação íntima entre ecoturismo e turismo sustentável, uma vez que o ecoturismo é visto como:

· Um turismo em pequena escala;
· Mais ativo do que outras formas de turismo;
· Uma modalidade de turismo na qual a existência de uma infra-estrutura de turismo sofisticada é um dado menos relevante;
· Empreendido por turistas esclarecidos e bem educados, conscientes das questões relacionadas a sustentabilidade, além de ávidos por aprender mais sobre estes temas;
· Menos espoliativo das culturas e da natureza locais do que as formas “tradicionais” de turismo (SWARBROOKE 2000).

O caso contra o ecoturismo

Desta forma, encontramos vários aspectos positivos no ecoturismo, como os apresentados acima. Porém, podemos enumerar alguns aspectos negativos quando analisamos o conceito de turismo sustentável. Tais aspectos serão considerados a seguir.

Ecoturismo ou Egoturismo?

Não estamos caindo na armadilha de presumir automaticamente que quanto mais alternativo, mais planejado para o cliente e quanto mais acima da média seja o produto... melhor ele será em termos de sustentabilidade? Temos aí a demanda por um egoturismo, politicamente correto para o meio ambiente, pois, como todos sabemos, o viajante se unifica coma natureza. O ecoturista, tão preocupado em se comportar de maneira ostensivamente sensível no meio ambiente vulnerável da destinação, não costuma se preocupar com o dano que ele causa no meio ambiente pelo simples fato de chegar a destinação. Aqui a conveniência adquire precedência sobre a consciência. (SWARBROOKE 2000).

Ecoturismo de hoje, turismo de massa amanhã?

Todos conhecemos os problemas causados pelo turismo de massa. E um destino de ecoturismo pode se tornar turismo de massa, quando excessivamente divulgado e concebido de forma irresponsável.

Não há lugar oculto para o ecoturista!

O ecoturista ganha prestígio e satisfação ao visitar destinações novas e fora do circuito, e ao ver coisas que outros turistas não viram. Assim, são levados a buscar destinações mais remotas e obscuras, com ecossistemas e culturas completamente diferentes da sua.

Por isso, nenhum lugar está a salvo do ecoturista. É o seu próprio senso de descoberta que os torna perigosos. Em vez de se ater ao circuito em que suas atividades podem ser gerenciadas, estão sempre ansiosos para escapar para destinações não mapeadas, nem gerenciadas.

O ecoturismo é mais do que apenas vida selvagem

Segundo SWARBROOKE (2000), pode parecer, muitas vezes, que o ecoturismo diga respeito apenas a vida selvagem. Os turistas geralmente parecem estar mais interessados em observar os animais do que em conhecer e tentar compreender os povos de diferentes culturas. No entanto, o ecoturismo deve dizer respeito a ecossistemas, e ecossistemas dizem respeito à vida selvagem e às pessoas. Para os ecoturistas, portanto, as pessoas e a vida selvagem devem ter a mesma importância.

Rumo a um ecoturismo sustentável

Para que o ecoturismo se torne uma forma de turismo sustentável é necessário que este seja adequadamente gerenciado. Porém percebemos que ecoturismo e turismo sustentável não são a mesma coisa.

WIGHT (1993) identificou nove princípios que devem fundamentar o ecoturismo sustentável, que são os seguintes:

· Não deve degradar os recursos e deve ser desenvolvido de maneira completamente ambiental;
· Deve possibilitar experiências participativas e esclarecedoras em primeira mão;
· Deve envolver educação entre todas as partes – comunidades locais, governo, organizações não governamentais, indústria e turistas (antes, durante e depois da viagem);
· Deve incentivar um reconhecimento dos valores intrínsecos dos recursos naturais e culturais, por parte de todos os envolvidos;
· Deve implicar aceitação dos recursos tais como são e reconhecer os seus limites, o que pressupõe uma administração voltada para o abastecimento;
· Deve promover a compreensão e as parcerias entre muitos envolvidos, e isso pode incluir o governo, organizações não governamentais, a indústria, os cientistas e a população local (tanto antes como durante as operações);
· Deve promover responsabilidades e um comportamento moral e ético em relação ao meio ambiente natural e cultural, por parte de todos os envolvidos;
· Deve trazer benefícios a longo prazo – para os recursos naturais e culturais, para a comunidade e para as indústrias locais (esses benefícios podem ser de preservação científica, social, cultural ou econômica);
· Deve assegurar que nas operações de ecoturismo a ética inerente a práticas ambientais responsáveis se aplique não apenas aos recursos externos (naturais e culturais) que atraem turistas, mas também a suas operações internas.

Desta forma, percebemos então que ecoturismo e turismo sustentável não são necessariamente a mesma coisa. Procuramos esboçar as principais diferenças entre os dois conceitos. Neste artigo, procuramos enumerar as idéias para que ambos fenômenos sejam aproximados, e para que o ecoturismo se torne mais sustentável.

Bibliografia

AMÂNCIO, R. & GOMES, M. A. O. Ecoturismo e sustentabilidade. Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” (Especialização) à distância – Ecoturismo: Interpretação e educação ambiental. Lavras: UFLA/FAEPE, 2001.

RUSCHMANN, D. V. M. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. Campinas, SP: Papirus, 1997.

SWARBROOKE, J. turismo sustentável: turismo cultural, ecoturismo e ética, vol. 5 – São Paulo: Aleph, 2000.

Ézio Dornela Goulart é Administrador de Empresas, Especialista em Ecoturismo e Educação Ambiental e em Planejamento e Gestão de Turismo e Meio Ambiente. Consultor da Cooperatur.
ezio@netservice.com.br

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Impactos do ecoturismo

Os impactos negativos e positivos que poderão advir da atividade de Ecoturismo estão, a princípio, relacionados a danos potenciais ao meio ambiente e à comunidade e, por outro lado, aos benefícios sócio-econômicos e ambientais, esperados a níveis regionais e nacional.

Impactos do Ecoturismo

Os impactos negativos e positivos que poderão advir da atividade de Ecoturismo estão, a princípio, relacionados a danos potenciais ao meio ambiente e à comunidade e, por outro lado, aos benefícios sócio-econômicos e ambientais, esperados a níveis regionais e nacional.
Com efeito, a fragilidade dos ecossistemas naturais, muitas vezes, não comporta um número elevado de visitantes e, menos ainda, suporta o tráfego excessivo de veículos pesados. Por outro lado, a infra-estrutura necessária, se não atendidas normas pré-estabelecidas, pode comprometer de maneira acentuada o meio ambiente, com alterações na paisagem, na topografia, no sistema hídrico e na conservação dos recursos naturais florísticos e faunísticos.
O alijamento das populações locais se configura, também, como outro risco, pois a presença de operadores, quase sempre sem nenhuma relação orgânica com a região, pode gerar novos valores incompatíveis com os comportamentos locais, ocasionando conflitos de ordem cultural e de outras ordens.
Em contrapartida aos riscos ambientais e comunitários, o Ecoturismo apresenta significativos benefícios econômicos, sociais e ambientais, tais como:

 - diversificação da economia regional, através da indução do estabelecimento de micros e pequenos negócios,
 - geração local de empregos,
 - fixação da população no interior,
 - melhoramento das infra-estruturas de transporte, comunicações e saneamento
 Benefícios x Impactos

Atualmente considera-se o termo "impacto" como qualquer alteração nas propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia, decorrentes das atividades antrópicas (humanas), que direta ou indiretamente prejudiquem:
 - a saúde,
 - a segurança e o bem estar da população;
 - as atividades sociais e econômicas;
Impactos Socioculturais
 - Perda de valores culturais tradicionais;
 - Conflitos entre usuários da comunidade e visitantes.
Benefícios Socioculturais
 - Investimentos na infra-estrutura viária, de abastecimento, equipamentos médicos e sanitários;
 - Estímulo ao artesanato local e às manifestações culturais tradicionais.


Impactos Econômicos
 - Sobrevalorização de terras e imóveis;
 - Aumento do custo de vida;

Benefícios Econômicos
 - Geração de emprego
 - Melhor distribuição de renda.

Impactos sobre o Meio Físico
 - Descaracterização da paisagem;
 - Poluição da água, do solo, sonora e do ar.

Benefícios sobre o Meio Físico
 - Manutenção da paisagem;
 - Controle da poluição. 

Impactos sobre a Vida Silvestre
 - Alterações na reprodução, comportamento e hábitos alimentares da biota;
 - Coleta e comércio ilegal de espécies silvestres;
 - Erosão e desmatamento em trilhas; 

Benefícios sobre a Vida Silvestre
 - Auxílio na conservação de áreas naturais;
 - Conscientização sobre o equilíbrio do meio ambiente.







O que é Ecoturismo?

Segundo a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), o Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas.
Para o Instituto de Ecoturismo do Brasil, ecoturismo “é a prática de turismo de lazer, esportivo ou educacional, em áreas naturais, que se utiliza de forma sustentável dos patrimônios natural e cultural, incentiva a sua conservação, promove a formação de consciência ambientalista e garante o bem estar das populações envolvidas.
Das diferenças existentes entre o turismo comum (clássico) e o ecoturismo (turismo ecológico) ressalta-se que enquanto no turismo clássico as pessoas apenas contemplam estatisticamente o que elas conseguem ver sem muita participação ativa, no ecoturismo existe movimento, ação e as pessoas, na busca de experiências únicas e exclusivas, caminham, carregam mochilas, suam, tomam chuva e sol, tendo um contato muito mais próximo com a natureza. O ecoturismo ainda se diferencia por passar informações e curiosidades relacionados com a natureza, os costumes e a história local o que acaba possibilitando uma integração mais educativa e envolvente com a região.
O ecoturismo é uma atividade sustentável e, por se preocupar com a preservação do patrimônio natural e cultural, diferencia-se do turismo predatório. É uma tendência mundial em crescimento e responde a várias demandas: desde a prática do esporte radical ao estudo científico dos ecossistemas.
O nome “ecoturismo” é novíssimo, surgiu oficialmente em 1985, mas somente em 1987 foi criada a Comissão Técnica Nacional constituída pelo Ibama e a Embratur, ordenando as atividades neste campo.
Os principais objetivos do Ecoturismo:
·                  promover e desenvolver turismo com bases cultural e ecologicamente sustentáveis;
·                  promover e incentivar investimentos em conservação dos recursos culturais e naturais utilizados.
Para que uma atividade se classifique como ecoturismo, são necessárias quatro condições básicas: respeito às comunidades locais; envolvimento econômico efetivo das comunidades locais; respeito às condições naturais e conservação do meio ambiente e interação educacional - garantia de que o turista incorpore para a sua vida o que aprende em sua visita, gerando consciência para a preservação da natureza e dos patrimônios histórico, cultural e étnico. 
Em 1994, um grupo multidisciplinar formado por representantes dos mais diversos segmentos interessados dos setores governamental e privado, analisou e estabeleceu bases para a implantação de uma Política Nacional de Ecoturismo, de forma a assegurar:
·                  à comunidade: melhores condições de vida e mais benefícios;
·                  ao meio ambiente: uma poderosa ferramenta na valorização dos recursos naturais;
·                  à nação: uma fonte de riqueza, divisas e geração de empregos;
·                  ao mundo: a oportunidade de conhecer e utilizar o patrimônio natural dos ecossistemas para onde convergem a economia e a ecologia, para o conhecimento e uso das gerações futuras.
O caminho ideal para o ecoturismo é o que se chama desenvolvimento sustentável. Este conceito propõe a integração da comunidade local com atividades que possam promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais e culturais. 
Antes de implementar o ecoturismo é necessário saber se a população local está disposta a se envolver, direta ou indiretamente, com esta atividade indiretamente porque deve haver uma abertura inicial da população para receber pessoas estranhas e com hábitos diferentes. O diálogo permanente com a população, o esclarecimento e a informação constante, o incentivo ao seu envolvimento com estas atividades e participação no Conselho Municipal de Turismo são exemplos de ações que podem ajudar os moradores a descobrirem as oportunidades que se abrem com a implantação do turismo.
Um programa de capacitação de monitores ambientais locais é uma das formas de envolver a população com o ecoturismo, gerando emprego e renda. Os monitores não possuem a mesma função do guia de turismo, mas devem saber associar os atrativos naturais da região a seus aspectos culturais. Não há exigência de escolaridade, mas é extremamente recomendável que sejam alfabetizados.
Além dessa capacitação, existem outras formas de envolvimento. Em regiões marítimas ou fluviais, pode-se adaptar (sem descaracterizar) as embarcações dos pescadores para atividades turísticas em épocas de escassez de peixe ou de proibição da pesca (desova). Os pescadores interessados passariam por um breve período de capacitação para exercer esta atividade.
O volume de recursos necessários para a implantação do ecoturismo varia conforme o tamanho do município, da área a ser utilizada e da disposição da administração e da população locais. A curto prazo pode ser feita a cobrança de ingressos em algumas atrações turísticas. Nesse caso, podem ser aplicadas tarifas diferenciadas para turistas estrangeiros, e para as diferentes atividades a serem desenvolvidas nos locais (esportiva, científica, etc.). Isto exigiria a adaptação dos serviços de promoção do turismo (hotéis, agências, restaurantes, atividades esportivas e culturais) a uma gama de turistas bastante heterogênea economicamente.
Embora todo município possua condições de implementar sozinho algum tipo de atividade turística, algumas questões correlacionadas não podem ser resolvidas unicamente na esfera municipal. Alguns municípios possuem atrações turísticas, mas não a infra-estrutura necessária para o turismo. Por isto é importante atentar para o enfoque regional dos problemas: municípios vizinhos, sem atrações turísticas, podem ter a infra-estrutura necessária para permitir esta atividade.
Pode haver degradação ambiental, mudanças nos valores locais e na sociabilidade dos moradores, com a descaracterização ou o abandono de atividades tradicionais e, até mesmo, aumento da violência e da criminalidade. A cultura local, por sua vez, deve se expressar espontaneamente, contando com o apoio da prefeitura, mas sem ser obrigada a se transformar em uma atividade turística.
O Brasil possui ainda regiões relevantes de áreas naturais e é o país de maior diversidade do mundo, seu potencial ecoturístico é muito grande, o que tem proporcionado o desenvolvimento desta atividade, com movimentação de milhões de reais.
Os municípios brasileiros, em sua maioria, possuem atrativos para se tornarem pólos ecoturísticos. Mas além da disposição do município em implantar o ecoturismo, a existência de serviços e infra-estrutura (hotéis, pousadas, estradas, telefone, etc.) é uma pré-condição a ser observada.
Entre os principais destinos estão: Bonito (MS), Chapada Diamantina (BA), Chapada dos Guimarães (MT), Chapada dos Veadeiros (GO), região de Manaus (AM), Fernando de Noronha (PE), Lagamar (SP), litoral sul da Bahia, Pantanal (MS/MT), Serra Gaúcha (RS), Serra do Mar (SP), Vale do Ribeira (SP) e diversas regiões do litoral nordestino.
Um dos maiores atrativos turísticos do Brasil, a Amazônia, sabe-se que os principais problemas sociais que lá vêm ocorrendo, simultaneamente a um acentuado processo de degradação ambiental, são decorrentes do confronto entre duas formas de uso: a "tradicional" e a "moderna". A forma "tradicional" na qual os diferentes grupos sociais (povos da floresta: seringueiros, caboclos, indígenas, etc) vivem em estreita relação com a natureza, praticando o extrativismo da borracha, a coleta da castanha, a caça e a pesca artesanais de subsistência, revelou-se capaz de manter o equilíbrio ecológico.
Já o "moderno", adotado intensamente nos últimos 40/50 anos, difere do "tradicional", tanto na sua relação com o uso do solo, onde prevalece a especulação imobiliária, quanto ao processo produtivo que têm na exploração maciça dos recursos naturais (madeira, garimpo, etc) seu principal objetivo. O Ecoturismo para ser sustentável deve buscar o modelo "tradicional" de extrativismo de nosso patrimônio natural e cultural.